Certa vez uma amiga me disse que ninguem morre de amor. Romeu e Julieta morreram de amor, lhe disse em contradicao, e ela me olhou profundamente e me disse que eles morreram de idotice e nao de amor. Se Romeu tivesse lido o bilhete que Julieta lhe deixou nao teria tomado veneno e estupidamente se matado.
A retorica proceguiu, por horas e horas, e muitos calices de vinho, teorias, passagnes de livros e filmes sem que chegassemos mesmo a lugar nenhum. A piada ficou, e sei, que se eternizara em nosso meio, toda vez que alguem estiver chorando com o coracao partido, sei que uma de nos gritara sem piedade- Ninguem morre de amor!
Devo dar a mao a palmatoria e aceitar que ninguem morre de amor, mas as vezes, e como se morressemos, e e uma morte lenta, um processo doloroso, que vai aos poucos retirando cada pedacinho nosso, das coisas que conheciamos sobre nos mesmos e que passam a nao fazer mais sentido. Se morre subjetivamente de amor. E uma doenca que consome lentamente, e que nao possui antibiotico, vacina, ou remedio para dor.
Perder quem se ama, nao pela morte fisica, mas pela morte do elo que um dia existiu e sem duvida um desfio desesperador para a alma, que se apega tanto ao querer bem, sem saber medir os vicios e as delicias.
Cortar o elo e dificil, pois a pessoa ainda existe, so que nao pode mais existir na mesma dimensao, entao e preciso se armar de muros e muralhas para que o coracao entenda que de certa forma, embora ainda viva, aquela pessoa precisa morrer (subjetivamente). E como segurar a impulsividade de um telefonema? De um e-mail? De um jantar? Tudo bem se os dois lados estiverem bem resolvidos com a resolucao da separacao, mas o que acontece se um dos lados ainda ama com voracidade e ainda deseja que tudo fosse como antes, mais uma vez?
Mas assim como podemos morrer por amor, tambem podemos ser curados por ele, e essa e a viagem mais emocionante, no exercicio de viver. Como nas historias de contos de fadas onde a Cinderela foi salva por seu principe e a bela dormecida voltou a vida apos um beijo. Dizem que nada como um novo amor, para enterrar o velho.
O amor e a energia mais poderosa que existe. E por ter tanta forca vital, ele salva e mata. Aprisona e liberta. E quase sempre vive independente da nossa vontade, nasce, morre, rensace, ao nosso olhar atonito, que senta e percebe suas mudancas, sem ter controle quase algum sobre ele. Amor e quimica, misterio, sensibilidade, destino, aroma, paladar. Sabe se la porque nos paixonamos por aquele cara que nao tinha nada a ver com a gente.
A dor maior e quando o amor de um decide acabar enquanto o amor do outro ainda vive e nao quer sair. Expulsar o amor dentro de um coracao, pode ser a tarefa mais dificil do exixtir.
Ninguem morre de amor, mas as vezes a dor e tanta, que se fosse dor fisica, possivelmente o coracao pararia de bater. Como Cazuza disse um dia -Morrer nao doi! Se a morte nao causa dor, os pesos das perdas no viver deixam cicatrizes, e nos paralizam por um certo tempo nesse estado de dor intensa, onde prazer e alegria sao sentimentos quase impossiveis de reconhecer.
Toda perda gera conflito e dor, e nos atira para um outro nivel, para um outro cenario, que precisamos tentar conhecer, mesmo quando tudo o que desejariamos nessa hora era olhar pra tras e pisar naquela terra confortavel que deixamos.
Perder doi, e melhor seria se nao precisassemos perder nunca. Quem esta vivo sangra.
Ana Frantz