Queria a inocencia de uma crianca em face de minhas mais extremas decisoes. Quando na iminencia de me atirar do alto, opto sempre pela covardia virando as costas para o maior frio da barriga que eu poderia esperar numa existencia inteira. Gostaria de as vezes nao saber as consequencias. Nao pesar as perdas, os juros, os lucros, o tempo que passa no relogio. Queria ter a liberdade de uma crianca, que ainda tem a tarde inteira para brincar, e uma vida inteira para planejar.
A vida as margens dos vinte e poucos anos, e cruel. Porque ainda somos jovens, mas velhos demais para continuarmos perdidos. Ainda temos tempo, mas nao o suficiente para perder com decisoes erradas. Ainda queremos casamento e filhos, mas antes deles, precisamos acelerar o caminho ao sucesso profissional, que deve vir logo, caso contrario correremos o risco de sermos maes avos. E isso, temos certeza, nao queremos encarar a maternidade com rugas demais.
A vida corre ligeira em 2008, com o "Credit Crunch" alarmando a sociedade e mais e mais empresas fechando suas portas a cada novo jornal entregue. Uma sociedade esmagada pela correria e pela simples luta por sobrevivencia, que muda de rotulos e varia de individuo para individuo.
Tempos complicados estes, em que escolhi nascer, numa decada, em que deveria ter mais certezas do que duvidas e me afirmar na escala social, para o "gran-final" passeio pela maturidade. Continuo correndo atras da fila, na espera de pegar esse voo logo, mas enquanto isso, tento deixar a vida me levar e nao ser levada pela correnteza da crise financeira. Quando abri o jornal na segunda feira de manha e descobri que o banco de investimentos Lehman Brothers faliu, fiquei chocada. Trabalhei la por dois anos, uma empresa fortissima, com um nome de peso, 4 mil empregados instalados num predio de 31 andares, tecnologia de ponta, e uma infraestrutura gigantesca. Da noite para o dia 4 mil pessoas desempregadas. Ondas de instabilidade ecoando nos quatro cantos do mundo. Os grandes jornais de Londres anunciam a maior recessao dos ultimos anos, comparada a grande recessao pre guerra de 1929.
De volta a 2008, a recessao certamente anda me perseguindo e com muita sorte venho escapando ilesa. A companhia aerea XL da qual viajei para a Grecia na semana passada decreteou falencia 24 horas apos eu ter aterrizado sa e salva no Reino Unido, e Lehman Brotheres fechou suas portas apos um ano do meu pedido de demissao. Espero continuar tomando as decisoes certas, fechando as portas, antes que elas se fechem na minha cara. No entanto a certeza das escolhas e os diversos caminhos que elas podem nos levar vai ser sempre o risco maior, que nem a bolsa de valores poderia superar.
Em meio a essa nuvem negra de instabilidade e inseguranca, nos, mulheres ainda meio adolescentes de vinte e poucos anos, ainda meio perdidas, ainda sofrendo nos ombros o peso da independencia financeira, precisamos de um bom jogo de cintura para nao cair do salto, e continuar encontrando meios de seguir a moda, por onde quer que ela passe, precisamos lembrar de colocar o batom na bolsa, de ler aquele livro, de ver o Walter Salles e ainda termos tempo para sonhar.
Enquanto isso na terra da Rainha, a London Fashion Week, tenta distrair e pincelar as paginas coloridas dos jornais com modelos e marcas famosas. Se teremos ainda inclinacao para gastarmos em brochinhos e bolsas, isso so o mercado financeiro podera responder e essa resposta talvez ainda custe a chegar.
Ana Frantz
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