Tem dias que sao diferentes. Alem do sol, da chuva, das inusitadas cores que um ceu nos presenta. Tem dias que simplesmente assumem sua energia propria. Dia de silencio, tardes que passam, varridas num profundo estatico, ainda que gritos ecoem no quintal, o silencio, pode ser tocado. Noutros a alegria e tao intensa, que a fome de vida nos devora, e somos capazes das mais loucas artimanhas. Outros dias praticos, outros em que a gente sonha. E outros que a gente se sente triste, sem razao alguma.
Hoje uma contidade de pessoas que me rodeiam estao tristes. Cada um com seu motivo especial. Mas quase todos os meus amigos hoje estao com as asas do sonho recolhidas. Nao sei se isso tem a ver com a lua, especialmente depois da lua cheia mais importante do ano, (Lua de Budha) estar migrando agora para a minguante, se esvaziando lentamente de todo seu magico esplendor. Pode ser.
Pode ser tambem que coincidentimente as vezes a gente simplesmente para a roda dos dias, e desacelera o compasso, e se olha rente a pele, nas impressoes digitais da alma, e vai aos poucos, com tanta nitidez, fazendo um mergulho em tudo o que se e, em tudo o que se quer ser. Essa angustia de querer chegar. Esse medo de quem sabe nao conseguir. Essa falta de afeto verdadeiro, do amor que nao se esgota, do amigo que nao desaparece nas entranhas da correria.
E se pensa nos velhos dias da infancia, nas longas tardes de brincadeira, na angustia febril da adolescencia, da nossa insensatez, que as vezes, ansiamos de volta. Se pensa em tudo o que foi, o que fomos. Em qual de nos, fomos mais nos mesmos? Em qual parte da estrada, essa essencia, que me acostumei a ser, era mais ou menos minha? Nos ciclos, nos anos que passam, nas pedras que deixamos pelos caminhos, nos amigos que nunca voltaram, no amor que secou, na saudade que se expandiu. Ate que ponto, somos nos mesmos, intactos pelo mundo? Sera que nos recriamos a cada dia, somando ganhos, diminuindo perdas?
E o que sao perdas afinal? Meu amigo, Romar, me diz que somos a soma dos ganhos subtraindo as perdas, e eu fico aqui com meus brochinos tentando contabilizar isso tudo. E nao consigo! Porque o que se perde, e tambem, o que se ganha. A experiencia de um coracao que amou demais, a magoa de alguem que deu tudo o que tinha por amizade, um olhar mais esfomeado, as memorias se ampliando pela casa de dentro, as imagens, as paisagens, parte do que somos que so vai se expandindo com o tempo. Quantos ganhos o tempo traz quando se olha tudo assim, do alto?
Mas tem dias, que a altura nos da arrepios, e queremos mesmo e tocar a terra, com os pes firmes. Nada de errado nisso, e da natureza humana, o pouso e o mergulho, tanto quanto o voo. O segredo e voltar do mergulho mais intenso, e nao esquecer da hora certa de voltar, porque um naufragio, pode levar mais que um dia.
Tambem me deixo minguar junto com essa Lua que a noite convida. O vento vai dancando la fora, arrancando sem piedade as petalas cheirosas de minhas flores. Mas ainda assim, amanha sempre sera um novo dia. E meus olhos esfomeados de vida, esperam ja ansiosos, por mais um nascer do sol.
Boa noite, amigos, meus.
Ana Frantz
2 comments:
Li a tua crônica, Ana Magia, e ela me faz pensar. Sim, lembro da frase que usei durante nosso bate-papo, que somos a soma dos ganhos subtraindo as perdas. É claro que, nessa contabilidade, em algum momento corremos até o risco de um resultado negativo. Perdas e ganhos, perdas e danos, pedras e danos. Volto a pensar na expressão que dá título ao texto, "olhos esfomeados", e que remete à bela canção "hungry eyes" do Eric Carmem. Eis uma fome terrível. É também uma fome física, que quer ser saciada com convívio e afeto, mas é principalmente uma fome de alma, daquelas que, em muitos casos, todos os alimentos do mundo, tudo o que a gente tem à disposição, nunca é capaz de preencher. No entanto, é claaaro que essa fome, como todas as fomes, também pode ser saciada. E acho que olhos esfomeados tendem, principalmente, a alimentar-se do belo, a se auto-nutrirem, e nisso a amizade tem um papel fundamental. A amizade e o amor (qual é mesmo a ordem?) são o alimento para aquilo que a alma (e não necessariamente o coração, posto que esse esquece, é falível e é limitado ao plano físico, terreno) da gente requer. A tua crônica leva longe, e traz as coisas boas pra perto, Aninha. Assim, te traz pra perto. Um abraço carinhoso nessa Londres sem fim, de uma noite chuvosa no sul mais sul, também tua terra. Romar
Minha linda..Deveria ter te lido ontem a noite...mas estou aqui agora, vendo que estamos em sintonia plena.E agradeço pelas palavras, pois tocaram em mim poe certo!
Te amo muito
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