Nao gosto de ser pessoal quando escrevo. Antes de mais nada, preciso deixar claro uma coisa; nao escrevo para tocar no amago de nada, nem na alma de coisa alguma, nem mesmo de quem eventualmente decifra qualquer frase minha, ou dos que chegam aqui por acidente. Ecrevo para me libertar. E e so assim que me curo do que asfixia minha vontade de ser.
Tambem detesto finais.
Me vicio a tudo o que toco, respiro e como.
Quando acaba nao sei como me comportar. Nao sei fingir e falo antes de pensar.
E so tenho mais meia hora de vida; antes que acabem a desculpa dos meus vinte e poucos anos. Inevitavelmente o tempo nao parou pra mim, embora tantas vezes eu tenha me sentido congelada no tempo. Como uma estatua em praca publica hora apedrejada, noutras admirada e em certas noites usada como latrina de bebados andarilhos das estradas.
Ja acreditei em muitos contos de fadas. Ja nao os sigo como antes, se nao para alguma boa risada, se tenho tempo de sobra.
Mas agora que o Saturno retorna para a mesma casa astrologica que estava no dia do meu nascimento, tudo toma um outro rumo; a mulher renasce, nasce. Nem tenho la certeza de que gostava de ser a menina de feicoes doces e inocentes. Quem foi que disse que fui inocente um dia? Se la no fundo essa chama sempre ardia. O que quis sempre foi atear fogo no mundo, nas labaredas da intensidade que a verdade instiga. E assustador dizer a verdade ate para nos mesmos, nao era sempre assim? A constante fuga, a omissao que protegia. Protegia do que? Da verdade? Ah e o que seriamos sem a verdade?
Quem sou?
Sou uma imensidao. Galaxias e mais galaxias. Ondas gigantescas quebrando no rochedo. Estrelas que nascem no ceu. Sou a fe e a desitencia. A confusao no meio do caos. Sou historias, sou amores, sou amigos, sou familia. Sou uma celula de tudo o que toquei, dos que amei.
Tres decadas entao.
Celebro sem pudor nenhum.
La se vao os doces anos dos meus vinte e poucos anos. O tempo passou para mim tambem.
E essa decada que hoje finda alem de memorias deixa a cicatriz dura e profunda das coisas vividas pela primeira vez. E nem desconfiava que haveria tanta coisa a fazer, pela primeira vez. Ainda me restam algumas.
Vou em busca destas e me conformo com a ruga ao lado dos olhos cada vez que sorrio desprendidamente. Me conformo com um fio de cabelo branco. Me conformo com as metas que ainda nao alcancei. Me desculpo por ainda estar nesta busca. Busca do que? De viver em plenitude a verdade do meu ser. Me perdoo por me deixar escravizar por rotinas tao banais. Desculpo as ausencias. Aceito minha solidao, como o pai, que aceita o filho na prisao.
La se vao os ultimos minutos dos meus vinte e poucos anos. E verdadeiramente pressinto que um novo tempo comecou para mim gora. Deixa ser entao; a menina que ja nao cabe mais em mim, da vasao para a mulher que ja nao pode mais fingir nao saber dos segredos escondidos nas dobras do mundo.
Para quem ja sentiu o frio ardendo os musculos das costas e quem nao dormiu de tanto calor, nao ha muitas coisas que ainda metam medo.
A vida que flui em meus poros, esta e minha e de mais ninguem. A respeito.
Adeus.
Ate amanha, um outro alguem.
Ana Frantz
1 comment:
"Sou uma imensidao. Galaxias e mais galaxias. Ondas gigantescas quebrando no rochedo. Estrelas que nascem no ceu. Sou a fe e a desitencia. A confusao no meio do caos. Sou historias, sou amores, sou amigos, sou familia. Sou uma celula de tudo o que toquei, dos que amei."
Magnífico!
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