Fazem anos, que li pela primeira vez Dino Buzzati. Autor Italiano, escreveu mais de 40 livros. Bastante apegado as solidoes da alma humana. Temas filosoficos e metaforas do cotidiano. O seu livro mais famoso no Brasil, foi sem duvida, O Deserto dos Tartaros, que devo ter lido aos 19 anos, quando ainda trabalhava no jornal, e o convivio com meu amigo Romar era diario. Como nao poderia ser novidade, Buzatti caiu nas minhas maos principiantes por conta de Romar, que sempre se esmerou em tentar me educar literalmente.
Lembro o quanto esse livro mexeu com minhas estruturas juvenis. Lembro do meu naufragio filosofico. Lembro de como aquele deserto, sem nada, me assustou. Lembro de como prometi a mim mesma, nunca me entregar ao deserto, nunca acreditar em miragens, nunca aceitar promessas de um futuro imprevisivel. Prometi a mim mesma naquelas tardes quentes, que nessa vida, eu me comprometeria com um objetivo somente- jamais deixaria minha alma cair no deserto. No deserto dos Tartaros que Buzzati tao bem pincelou, no deserto das esperas, no deserto das ilusoes, de sacrificios por um amanha que talvez nunca chegue.
Prometi a minha alma marota, que seria feliz a cada dia, que concentraria minhas forcas para que o dia de hoje sempre valesse a pena, sempre possuisse essencia, sempre, sempre!
E ca estou. Sentada a janela observando esse imenso deserto.
Quando foi mesmo que me perdi? Quando foi que construi dia apos dia, esse imenso pedaco de chao seco e sem vida? Esse horizonte distante, longinquo ate mesmo das minhas esperancas mais juvenis?
Nao sei se foram os anos, a distancia, a cegueira cosmopolitana, a fumaca ou a poluicao das grandes cidades. Talvez minha carencia foi maior que minha propria alma, e exigiu de mim, acreditar em ilusoes quando a realidade era dura demais para absorver.
Mas aconteceu. Talvez tenha acontecido com voce tambem, e nem tenhas percebido.
Agora o deserto me olha. O tempo passou. Nao volta mais. Terei que atravessar essas longas terras de seca e po, com meus pes descalcos e a garganta sedenta, ou posso sentar aqui, confortavel a beira da janela, e continuar esperando por algo que nunca acontecera.
Para quem nao leu O Deserto dos Tartaros. Leia!!! Leia agora, leia hoje, prometo que serao horas muito bem investidas.
Dou uma palinha, certo?
O livro conta a desventura do oficial Giovanni Drogo, o qual, aos vinte anos, é nomeado, em seu primeiro posto, para o forte Bastiani, que se ergue imponente e solitário às margens abandonadas do 'deserto tártaro'. Drogo, que espera ficar ali poucos meses, aguardando uma transferência, vê a vida transcorrer sem que sua razão de ser se realize: transformar-se num soldado verdadeiro, conhecer a glória de participar de uma guerra que, tudo indica, não vai acontecer...."
Há uma reflexão sobre o tempo (o que fazemos da nossa vida? Assistimos apenas o passar dos anos como se fôssemos imortais?), sobre a atitude do ser humano frente à vida.
"Numa belíssima manhã de setembro Drogo, o capitão Giovanni Drogo, mais uma vez sobe a cavalo a íngreme estrada que conduz ao forte Bastiani. Teve um mês de licença, mas após vinte dias já está de volta; a cidade agora se lhe tornou completamente estranha, os velhos amigos tomaram seu caminho, ocupam posições importantes e o cumprimentam apressadamente como a um oficial qualquer" (pág. 207).
O final do livro emociona os que acompanham toda a vida de Drogo dedicada ao forte. De uma certa forma nos remete aos dias atuais em que muitos se dedicam obstinadamente a objetivos ilusórios, passam sua juventude lutando por um sonho e deixam de viver a vida verdadeiramente. Depois da leitura podemos nos questionar: o que ando fazendo da minha? Pelo quê ando lutando? Em pleno século XXI, se ainda não temos respostas, pelo menos conseguir formular mais claramente nossas perguntas...
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