“He who is conceived in a cage yearns for the cage.”
Yevgeny Yevtushenko
Desde que me entendo por gente, como se dizia na Santa Cruz, tenho como meus ideais superiores a LIBERDADE. Sempre me senti meio hippie, meio rebelde, intensa e controversiva.
Mas nessa manha nao me reconheci mais no espelho. Agora que tenho toda a liberdade do mundo, apos ter saido de um casamento de seis anos, nao sei mais o que fazer com ela. Ela acorda pela manha e me olha pelo outro lado do espelho, e a unica coisa que sinto do lado de ca e solidao.
A falta das coisas mais banais, e de outras que antes me irritavam. Sinto falta do senso de organizacao do meu ex, do lar seguro e quieto que tinhamos. Sinto falta das luzes apagadas as dez da noite. Cada coisa no seu lugar. Coisinhas que antes me irritavam por serem perfeitas demais. E que agora, perdida no meio do caos, me fazem falta.
Na verdade percebo o quanto mudei. E isso so descobri quando passei a andar com meus proprios passos. Talvez eu nunca tenha sido tao rebelde assim, nem tao hippie, nem tao pouco liberal demais. Talvez a intensidade que eu exigia da vida, era apenas uma farsa inventada por mim. Talvez essa urgencia, era somente um grito desesperado, de alguem que sempre teve em quem se apoiar. Alguem que sempre teve para quem gritar, para quem bater portas. No momento em que nao se tem mais ninguem la para escutar os gritos e ter as portas fechadas diante de si, a urgencia perde o sentido, e mortalmente se aprende a ouvir os ecos de seu proprio silencio.
Da insanidade tenho medo. Da loucura tenho fobia. A liberdade me aprisiona.
Todas as coisas que quis pra mim, parecem escorregar por entre o veu do tempo. Vejo que cresci, ou, que sozinha sou outra. Quase um senso de defesa, que me obriga a apoiar somente em minhas proprias pernas.
Hoje me falta um pouco de coragem. Um pouco de vontade. E aquela fome de vida que um dia eu tive e sofri por ela.
E se for sincera a mim mesma, hoje tudo o que eu preciso e a sensacao de seguranca, o conforto de um lar com cada coisa em seu lugar, e as coisas mais mornas e sem gracas da vida.
Talvez tenha ficado tempo demais na sombra, e hoje o sol cega meus olhos.
Eu nao me reconheco mais.
Ana Frantz
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