E tao dificil definir uma saudade. A saudade as vezes adormece em um sono lento, noutras ela acorda com olhos esfomeados, e vai aos poucos devorando um coracao. Saudade e aquela vontade que da de trazer pra perto. De olhar rente a pele. De conversa olho no olho. De redescobrir as cores de um olhar que ha tempos nao vemos. De mais uma vez ouvir a voz suave de quem amamos. De devorar aquela comida que a temos nao saboreamos, de se esticar no sol, quando ha meses nao podemos, de olhar mais uma vez aquela paisagem, de tocar mais uma vez tudo aquilo que nos tocou com tanta intensidade. So sentimos saudades do que perfurou, a ferro e fogo, as entrelinhas, de tudo o que entendemos sobre nos mesmos
As coisas sem significancia nao deixam saudades. E as lembrancas sao leves e opacas. Mas em tudo aquilo que depositamos nosso mais profundo amor, em relampagos de rancor ou da alegria desmedida, sao as coisas que mais sentiremos o peso da ausencia. Todas as coisas boas, ou ruins, que passaram, vao sempre deixar saudades, se tiveram o dom de nos inquietar por dentro, de nos fazer emergir em um outro descobrimento sobre nossos proprios misterios. Sobre o que amamos em nos e no mundo, e sobre tudo aquilo que nao queremos por perto, porque causa dor.
Saudade e nao ter. E estar longe. E nao se bastar na manha que chega. E querer ser outra. E ansiar por outro lugar, outros horizontes, outras cidades, casa, pais. E querer trazer pra perto, o que ja nao existe mais, ou, quem agora traca um outro caminho.
Cheiros sempre me dao saudades. Musicas sertanejas sempre me remetem aos churrascos de domingo em Santa Cruz. Chuvarada me lembra da infancia e me enche de saudades do meu pai, que sempre que chove forte, para na varanda para observar. Beatles vai sempre me lembrar Londres, mesmo que nao os escute diariamente. Legiao sempre vai me lembrar 96, e Xuxa 85. Rita Lee vai me remeter a 99. Chimarruts, Ana Carolina e Leoni vao sempre ressurgir 2008. A palavra Greenwich vai sempre me lembrar um soco no estomago, de uma mudanca que nao foi feliz. Bethnal Green vai sempre lembrar casa, e Joaquim Murtinho um porto seguro. Cada foto vai me dar uma saudade, cada musica vai me fazer reviver o que sentia, cada perfume vai me trasnportar para um determinado tempo. Cada amigo, cada irmao, cada ex-amor.A cada dia, um pequeno detalhe que ressurge uma saudade. Certos capitulos dessa historia que hoje escrevo. No final somos a soma do que vivemos, e de tudo aquilo que escolhemos armazenar em nos.
Apesar de tanta saudades, de tanta gente que abandonei pelo caminho, ou que me abandonaram em algum lugar. Depois de tantas paisagens, de tanto por de sol, banhos de mar e tardes de chuva. Esse espetaculo que a vida edita, em dias febris, em noites sombrias, e horas que custam a passar. Nas cenas de alegria, no romance, nas velas acesas, pelas estrelas do ceu. Dos dias de adeus, aos abracos do reencontro. Sou sempre uma saudade, sempre uma vontade de devorar da vida, o passado, o presente e o futuro. Quero ainda mais vida que o segundo traca no relogio. Meus anseios, essa fome intensa. Nao aprendi a dizer adeus, e tudo aquilo que me toca fundo, permance em mim, feito tatuagem rente a pele.
Ana Frantz
2 comments:
Lindoooooooo, aiii 2008, ntre trancos e barrancos foi tão bom, e deixou uma saudade....
te amo
Amadaaaa lindaaaa...
Quanta inspiração...
Vc é pura inspiração!
Viajo total "lendo-te"!hihi
Fui parar em Bethnal Green, fui parar na saudade bonita que sentes;.
Pude ver teu paizinho na varanda vendo a chuva!
enfim...
muito lindo.
Te amo
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