Sempre que me pedem para falar sobre o que constitui uma boa história, ou o que faz uma história bem escrita ser "melhor" do que outra, começo a me sentir muito desconfortável. Depois que você passa a fazer listas ou a criar regras para classificar histórias ou qualquer outro tipo de obra escrita, algum escritor com toda certeza aparecerá e, sem a menor cerimônia, quebrará todas as regras abstratas que você ou quaisquer outras pessoas algum dia conceberam, e ao fazer isso impressionará a ponto de lhe tirar o fôlego. O uso da palavra deveria é perigoso quando se fala de obra escrita. É uma espécie de desafio aos desvios, à engenhosidade e à inventividade, audácia e perversidade do espírito criativo. Cedo ou tarde, qualquer pessoa que a tenha usado com demasiada liberdade estará sujeita a acabar usando também orelhas de burro. Não julgamos boas histórias pela aplicação a elas de algum conjunto de medidas externas, como julgamos abóboras gigantes na Grande Feira de Outono; nós as julgamos de acordo com a maneira como nos tocam, com a impressão que criam em nós. E isso dependerá de grandes imponderáveis subjetividades, que englobamos num conjunto com o título geral de gosto.
Margaret Atwood
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