Aquele amor. O fogo que a consumiu inteira, a agressao da falta que ele lhe fazia. Tudo isso como um soluco passou. A ferida parou de sangrar e da cicatriz uma mancha feia na pele, mas que ela prefere nem olhar. Agora olha tudo ao redor, e suspira. Passou! Ela nem acredita.
Nem acredita como lhe coube tanto amor, como pode amar aquele sujeito, assim tao sem graca, cara amarrada, peito sem poesia, alma sem loucura. Como pode amar por seis anos aquele sujeito que lhe tacou fora todas as cartas de amor, os poemas, as rimas que lhe havia escrito, e guardou todos os extratos do banco. Como pode assim, sem mais nem menos, amar aquele sujeito, de maneira tao felina e tao maternal.
O amor e cego diz o velho ditado, e desde o comeco dos primeiros contos da humanidade na terra, e que vejo, mulheres amando demais. Como se nos dispusessemos de um estimulo totalmente aleatorio, um coracao, um botao. Um toque, e a celula mae e adicionada. A pressao sanguinea esquenta, bomba o sangue nas veias ja envenenado, e circula por todo o corpo, ate contaminar a alma. Mulheres apaixonadas sao um risco de vida pra si mesmas. Como e facil, dar aos que amamos, ate mesmo o que nao temos, ou o que nunca deveriamos oferecer a ninguem, nosso dom maior; a liberdade.
Penelope esperou pelo regresso do amado Ulisses, e enganou, supostos pretendentes, com a promessa que se casaria novamente quando terminasse de tricotar a manta que estava tecendo. E ao se deitar, desfasia o trabalho de um dia inteiro, assim conseguiu se guardar para o regresso do amado, apos 20 anos!
Quantas de nos, esperamos, cedemos, compreendemos. Quem de nos, nao se colocou em segundo plano, so para agradar Ele. Oferecemos nosso pedaco da picanha, passamos nossas ferias onde Ele quer e o natal e sempre com a familia dele. Compramos kaiser porque Ele so toma essa, aquela comidinha no almoco por que e a favorita dele, ou, ah nao, nao cozinho aquilo porque o fulano nao gosta. Quantas de nos aprendeu a gostar de futebol por causa dele, ou continua detestando, mas vez que outra se ve na frente da TV assistindo a final de qualquer campeonato. E atire a primeira pedra quem nunca deixou uma coisa que gostava muito, porque Ele nao suporta.
Simplesmente somos assim. Mulheres amam demais. Precisamos oferecer o que somos e o que temos em pro de outro ser. As vezes, um homem, noutras, outra mulher, quem sabe um caozinho, gato ou papagaio. Um filho ou sobrinho. Um pai e uma mae. Aquela amiga para qual nunca aprendemos a dizer nao. O amigo gay que rezamos para um dia acordar gostando de mulher, porque seriamos a primeira na fila. Nossa vozinha, que por ela, nos ajoelhamos na frente da TV, assistindo a missa do Galo, que ela nao pode ir, por que 99 anos deixam os ossos cansados!
Amar demais pode ser otimo! Mas melhor ainda, e olhar pra tras e perceber duas coisas: dor de amor nao mata; e no final, a liberdade que deixamos escapar, sempre retorna para nosso colo de mae, e podemos uma vez mais, saltar pocas de agua e correr faceiras pela vida afora. Livres para amar tudo outra vez!
Ana Frantz
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