O tempo e uma coisa intrigante. Por mais que o desejamos, nao podemos toca-lo. Por mais que ansiamos por sua constancia, nao temos dominio nenhum sobre sua passagem. Ja nem sei mais se acredito na estabilidade dos ponterios do relogio, que correm com as horas ligeiras na parede. Tem dias, que juro, ter ouvido um ruido pela sala, e la se vai, o tempo pulando pela janela, quando se viu, ja passou mais um dia.
Quando se viu ja passou outra estacao, e ja estamos de novo puxando o cobertor de madrugada. E logo e outro natal, outro aniversario, mais um ano novo. Entao e outra champanhe, novas promessas, outros sonhos. Tudo novo, esclamamos faceiros, na empolgacao dos fogos de artificio.
E, o tempo voa, diz o velho lembrando. A mae para o filho que chora a dor de um amor, diz que o tempo e remedio pra tudo. E se Mario Quintana estivesse entre nos, ele diria, que ficaras mais velho quando terminares de ler esse texto. Ficaras mais velho. Essa e a afirmacao que mais assusta. A prova de que Ele, esse Senhor de nos mesmos, esta passando, e levando com ele, nossas vidas. Transformando o presente em um passado, cada dia mais longo.
Dias atras, dois homens muito importantes na minha vida, fizeram aniversario. Nasceram no mesmo dia. Num espaco de tempo, de quase 20 anos. Mas os dois falaram do mesmo jeito; que coisa ingrata e a passagem do tempo! Um deles e meu pai; que me diz injuriado do outro lado da linha, que ha um dia atras ele tinha 66 e agora ja sao 67. O outro e meu amigo querido, amigo meu ja por uma boa e linda decada, ele me conta, que la se vao 40 anos, e que a musicalidade do "enta" lhe assustou um bocado.
A passagem do tempo amedronta ate mesmo o mais valente de todos os mortais. Me assustei em pensar que meu pai completou 67 anos de idade, nao falta muito para os setenta, e setenta para mim, ja era avo. Logo, logo a morte espreita. E ninguem quer a morte, so saude e sorte; ja cantou Gonzaguinha. Chegar a casa dos quarenta, deve no entanto ser o apice da subida. Antes achava que era aos trinta a ascenssao, mas eu mesma chegando a beira da casa dos "inta", resolvi postergar minha subida definitiva.
Amamos a vida de um jeito demasiado possessivo, e assim, nao conseguimos dividi-la com o tempo, esse que vem nos devorando conforme andamos. Mas ha que relaxar, e seguir pela correnteza. Largar os anseios, e arrecadar mais poesia pelo caminho.
Se quarenta anos e um divisor de aguas? Pode ser. A maturidade, pode ter lhe dado a calma, os livros lidos a sabedoria, de tambem entender que tudo passa. Mas es moco o bastante para te embriagar por noites a fio, com o nectar dos sonhos e dos desafios que ainda ha de tracar. Esqueca no entanto os fracassos, e o tempo que achas ter perdido. Porque tudo se transformou em uma historia. Se aos 67 anos de idade, podes te considerar um idoso, pode ser. Mas na alma quem edita a idade e a sede que tens, da vida que ainda lhe corre nas veias.E quando olhas pra tras, havera, tanto por de sol, e tardes belas, que poderas te ocupar em apenas amar tudo outra vez.
Acho que o segredo esta na intensidade que permitimos florecer em nos. No amor que deixamos reviver atraves das decadas. Dos sonhos pelos quais lutamos e dos que realizamos. Dos amigos que conquistamos, das paisagens que desnudamos, das palavras que criamos. O segredo que dividem as aguas em nos, esta na capacidade de olhar tudo, sempre com olhos de crianca. Com a inocencia de ver tudo como se fosse a primeira vez. Sem perder jamais um certo jeito insano de amar e temer a vida, essa que um dia, tambem vai passar.
Ana Frantz
No comments:
Post a Comment