Vivo em metades. E me descubro inteira em meu sonho. Acordo com as rugas das memorias amassadas em meu coracao.
O que amo, com tanta veemencia e ardor, destroi meu direito de sonhar. E abandono esse espinho com os dedos fervendo de remorso. Olho atenta a flor que nasce no jardim e descubro que ate a flor que nasce agora vem carregada de espinhos. Suporto-os, pois e o novo que chega. E sempre suportamos as sujeirinhas da novidade.
O que me pesa agora e esse amor em demasia. E essa saudade insaciavel. E essa impossibilidade de voltar.
O caminho segue e novas montanhas me sao postas. Como poderei contertar-me com a estrada reta e morna. Quando vales e rios e montanhas de dificil acesso me poem a prova. Quero esse vento que me faz chorar de tao gelado. Quero as faiscas dessa fogueira que me encanta com seus tons de laranja. Quero andar ate perder o folego e adormecer ao relento para catar as estrelas distraidas pela noite.
Mas meu coracao me pede para voltar. Me sussurra baixinho ao pe do ouvido: - Serena tua alma, a tudo o que te e simples e raro.
Anseio arrumar as malas. Ensaio que empacoto meus livros, todos numa caixa apertada. Me imagino fechando a porta. Entrando naquele aviao. E um nao sei o que me aterroriza. Tambem nao posso dizer adeus ao que aqui me fica.
Entao me acostumo a viver com as metades que connstrui. Aos amores que me amaram e nao suportaram minhas asas. A cidade que amei e que se me amou de volta; eu nao vi. Aos olhos azuis e sinceros de meu pai que choraram quando eu disse adeus, e quando eu prometi voltar apos 4 estacoes e nao voltei.
Me perco nas distancias que sao tao minhas. E o ar que eu respiro tao solitaria me da uma dimensao do que e se estar vivo. Imersa e feliz em meio ao furacao.
Me atiro do alto! A vista que me embala os olhos nesse precipicio infinito me explica que o milagre nos segue, e que as asas foram feitas para o voo.
Um dia quem sabe migro de volta e pouso de novo nas coisas que foram tao minhas um dia.
Ana Frantz
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