E eu que falava tanto da solidao. Da dor, que a sombra das coisas idas, pesa, longamente na alma. Fui eu que incendiei esse fogo todo das lamentacoes. Sim, confesso, que fui eu que nao tive medo de chorar em frente a quem amei, e assim, nao tive pena, de transformar um Imperio, a um povo escravo.
Me despeco agora da minha desculpa de doer. Vagarosamente abro minhas maos e deixo cair ao chao cada grao de areia acomulado com o tempo. Deixo esvair cada ruga que as lagrimas trouxeram e me permito seguir livre. Nua talvez, de qualquer amarra, de qualquer ego, de qualquer frase luminoza que diga: -podes ir, mas jamais vou te esquecer.
A verdade e que esquecemos. Esquecemos; as vezes por necessidade, noutras por sobrevivencia. Esquecemos porque so assim podemos seguir livres de novo, sem o peso da culpa, sem as amarras que nos distanciavam do sonho. Esquecemos, porque queremos tudo de novo. Uma pagina limpa, branca e branda. Esquecemos porque merecemos amar de novo.
Abro minhas asas ao vento, e no voo, vejo pequenas miniaturas das possibilidades deitadas a um chao de grama verde, ou, em lindas montanhas beijadas pela neve branca. Vejo o milagre da vida se decodificando sob meus olhos extasiados. Sim, tudo faz sentido, nesse mosaico, tao bem tramado. Se ao menos eu nao tivesse perdido esse brilho no olhar antes, se tivesse aceitado, que nas curvas da estrada, inevitavelmente deixaremos alguem pra traz. Algo pra traz.
E engracado isso. O despertar que a alma da. Em uma noite acorda, e ja e a borboleta ganhando alturas. Ja nem sabe mais porque mesmo rastejou por tanto tempo no escuro da terra fria. Mas tem tambem aquela historia, de sempre perserguirmos o impossivel. O inatingivel nos encanta!
Mas quem quer ser o cao correndo atraz do proprio rabo? Andar em circulos so e divertido no carrossel aos tres anos de idade, depois disso, ficamos tontos. A vida esta ai, para seguirmos em frente. Sempre a frente de mais um desafio. Me parece que as vezes, ela nos instiga, nos testa, e teima que vencamos nossos medos, ate nao nos restar mais nenhum. Viver exige coragem. Coragem de olhar pra dentro e perceber que a essencia, essa vozinha que nos sussura as coisas mais absurdas, e a voz que deveriamos ter ouvido desde o principio. Essa voz me diz, que a vida e agora!
Seres humanos que somos, nascemos para doar o que e mais raro em nos. E nascemos para morrer no coracao de alguem.
Ana Frantz