Eu voltei. Voltei por alguns segundos estracalhada em um milhao de pedacos coloridos, que ja no findar da hora, no crespusculo que de tao cinza vira o infinito. Estes cacos de mim mesma, se tornaram meu todo mais ardente. Mais comovente.
E estranho a sensacao de quando descobrimos que nao se pode ter tudo. Os sonhos sao mais belos, simplesmente porque somos nos que os desenhamos, escolhemos as rimas, pincelamos o verbo, o nome, o personagem. Nos esquecemos de que, quem manda no destino e mesmo um outro autor, e Ele, o autor maior, o ganhador do Premio Nobel. A nos, simples amadores nesta arte de sonhar, resta mesmo apenas isto. A capacidade do sonho.
Por que voltei? Eu nao sei. E nao me atreveria a inventar nenhuma explicacao convincente, nao ao menos, a mim mesma. Voltei porque nao sabia ser diferente. Voltei porque tem horas na vida na qual nos sentimos apenas covardes fantoches nas maos daqueles que seguram por um sorriso ou outro o nosso coracao. E a estes entregamos tudo.
Londres continua a mesma. E engracado que quando a olhava pelos distantes horizontes do hemisferio sul, ela mesma, esta cidade tao bela e tao antiga, me parecia ainda mais bela, ainda mais antiga, ainda maior em seus corredores icognitos e introspectivos. Agora quando passeio por suas ruas, tenho a estranha sensacao de que ja vivi isso tudo, de que as conheco como a palma da minha mao e tudo se torna pequeno novamente.
Os dias aqui sao cinzas. Ha uma pelicula daltonica por sob a cidade. No entanto as nuvens sao densas, as vezes elas parecem descerem dos ceus, encostando-se em quem caminha pelas ruas. As horas no entanto, parecem saltarem dos relogios e quando se ve ja sao seis horas, e mal sorrimos, mal bebemos, mal dancamos, mal comemos, e tao pouco lemos.
Sinto imensas saudades do sul. Do ceu estrelado que me dava sempre a sensacao de que a qualquer momento uma estrela inquieta se atiraria do ceu, so para que pudessemos lhe fazer um pedido. Da chuva que despencava dos ceus com tanta furia e entrega, como se nao tivesse um minuto a perder, ansiando fazer amor com a terra seca. Do sol subindo pela colina a cada manha, esquentando meus poros e reluzindo na grama verde um tom fluorescente. Dos sabias cantando, do feijao no fogo, dos abracos, bracos, largos sorrisos, dos lacos tao eternos, firmes, definitivos como tatuagens emoldurando o que habita por dentro.
Sim, meu caro amigo. E em tudo isto estas, estou. Me parece que o tempo para nos nao passa. Este, com o passar dos dias, eternece. E quando estamos um, na presenca do outro; e como se habitassemos um universo alem de nos mesmos, aquem do tempo.
Sinto falta da tua imensa calma. Dos teus olhos azuis que combinam tanto com o ceu dai.
Tua sempre, tua.
Ana Frantz
2 comments:
Gosto dos cacos.
http://www.vemcaluisa.blogspot.com/
Parabéns pelo blog. A cada dia teus textos parecem mais inspirados e, como se fosse possível, mais lindos e inspiradores.
Continue inspirando quem os lê.
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