E ela tentava imaginar. Como teria sido o futuro se ele tivesse tido a coragem. A coragem fatal e nescessaria para se continuar vivo. A coragem de se despir frente ao mundo que atira cacos de vidro em nos. E no peito em cicatriz que se expande na dor, mas nao para de bater cradenciado, com a fome santa e enlouquecida que anseia tudo.
Teus poros, tua risada, teu olhar.
As sardas contornando tua boca. A imagem que ela tinha quando crianca. As sardas contornam tua boca, mas seus dedos nao te alcancam mais. O teu olhar, verde com rabsicos escuros. Tuas maos sempre tao fortes. Tua calma, sempre tao branda. E ela segue pelas ruas, a saia de cetim, voa com o vento, e faz com que sua sombra na parede branca reluza na imaginacao do equilibrista. Mas ela corre no tempo, vazia.
Tu nao a ves. Tu nao a sentes.
Enquanto ela danca em meio a multidao, ela te imagina na frente dela, no escuro de noite, ela te imagina chegar, na fila do supermercado ela te imagina carregando as verduras frescas, quando as estrelas veem brilhar ela te imagina olhando o mesmo ceu. Tocando a mesma lua. Segurando o mesmo pensamento. Ansiando o mesmo desejo.
Ela te espera chegar. Ora para que um dia desprevinido tu escutes o uivo que a noite assopra no ouvido, no calafrio, que o vento arrepia na pele, na sombra prateada que a lua cria, por volta das flores no jardim. Ela ora em silencio, para que tu acordes. E correndo busques o que perdestes na esquina. A perola fragil. O diamante raro. A ultima chance de ser feliz. De ter sido humanamente feliz. Nao a felicidade de comerciais de margarina. Mas a felicidade insana e real. Entregue a montanha russa que a vida edita, ao caos das estrelas nascendo por dentro, na angustia e na dor, de sentir a propria pele rasgando com a chama desse vulcao sempre em erupcao.
Ela senta no jardim e imagina, como teria sido a vida, se ele tivesse tido a coragem de ama-la, com todos os seus sentidos.
AF
1 comment:
Magnífico!
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