Ele apagava seu nome, como se existisse forca capaz de fazer com que ela desaparecesse de sua vida e levasse consigo suas historias, seus suspiros, suas noites quentes e frias. Seus gritos de raiva e ate mesmo os de prazer. Ja nao queria nada que viesse dela. A pele sempre tao macia ao toque, as marcas de nascenca que as sabia de cor; queria esquece-las todas! Ate mesmo aquele gosto acro-doce que o intoxicava.
Queria apagar de seu passado as palavras que ela sempre insistia em susurrar em seu ouvido como se o amor fosse um pacto para toda vida.
Desesperado rasgava cada carta de amor que um dia ela havia lhe escrito. Cada palavra, uma a uma. Queria esquece-las todas! No papel rasgado, palavra por palavra ao meio, a prova de que pelo menos do fundo de suas gavetas ela havia desaparecido.
Teimava consigo mesmo, que era para ser assim e que o destino antes dele ja havia decidido o desfecho. Entao baixava a cabeca e se ocupava a colocar ponto atras de ponto, para qualquer exclamacao que ela insistisse em fazer do outro lado.
Ela era o vendaval em tarde lenta. E tinha uma honestidade obscena, que o impedia de imagina-la como o objeto romantico de que precisava para nutrir sua masculinidade. Era visceral. E isso o enjoava. Gostava de mulher que cruzava as pernas e com cautela repousava as maos sob os joelhos, que falava baixo, pauseadamente, como quem pensa cada palavra antes de imbutir nelas qualquer especie de som. Ela falava com os bracos e com as maos e ria muito alto. Isso o envergonhava. Ela era viciante; talvez fosse o exagero incrustido de sua presenca. Quando dava para ser doce, chegava a dar ansia na garganta. Quando insistia em ser amarga dava frio na espinha, tamanho o desastre em seus olhos. Dava trabalho nutrir suas densas raizes, incrustadas sabe la em quantas dimensoes alem de sua compreensao.
Assim sendo, ele a rasgava. Memoria por memoria em papel fino. De eco em eco, das gargalhadas, de um afago ou outro e das caricias de suas maos tao finas. Essencia por essencia, sua era tambem, que apagava.
De pedaco em pedaco desfeito. Por palavras e palavras nao ditas. Pela indiferenca aos seus apelos, na esperanca de qualquer tipo de salvacao, ele a negava, dizia incansavelmente nao. Ela o perseguia como sombra ao meio dia, fantasma que anseia qualquer tipo de redencao. Ele nao entendia. O que mais precisava rasgar, apagar, pisotear, para que ela desaparecesse de sua vida?
Ate que entao- ela silenciou.
E ele passou a ouvir ecos incessantemente pela casa. De certa forma ela sempre esteve ali.
Ana Frantz
2 comments:
eu vivi um processo desse, ao lado de alguém que tinha um outro alguém assim…
as vezes eu sinto este eco…ainda.
Ola Maggie,
Obrigada pela menssagem. E bem interessante esta conexao -
Gostei muito do seu blog.
Um grande abraco,
Ana
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