O outono nem se quer ainda tinha despido cada galho de suas folhas amarelas mas o inverno pedia passagem, como quem demanda uma resposta, antes mesmo da pergunta ter sido feita. Furia do amante que cansado da espera arida e fugas demanda o toque lento nas palpebras de um olhar cansado por ja ter se acostumado com a intensidade pela metade.
Nao havia nada mais perigoso. O corpo que dormente vai aos poucos perdendo o tato, ate nao sentir mais nada. O pranto que vinha em solucos era qualquer tentativa desajeitada em se sentir vivo outra vez.
Ele sabia que havia perdido o caminho de volta pra casa. A cada final de tarde, entre a porta e a fechadura, havia o desespero de estar no lugar errado. De nao poder entrar e de nao ter mais para onde fugir.
Ao final do dia havia apenas aqueles olhos verdes e sedentos a beirar todo o caos que pedia passagem. Havia suas maos finas e seus pes de dancarina a rebolar no caos, debochando do perigo e achando graca no adeus. Havia sua poesia concreta e seus jeitos de convencer. Havia seu odor, sua malicia e a enxurrada de sua presenca.
E havia o homem, que tentava silenciar o ruido que a poeira tem quando e levada a rodopios por ventos muito fortes.
Enquanto a fome do suor da pele em cor, devorava o homem preso em suas gaiolas frageis e irreais. Ela se sacudia valente no escuro, aprendendo sempre outra valsa a cada passo de danca. Livre e obscena, como a propria vida.
Ana Frantz
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