Atravessando Londres as seis e meia da manha, no assento trazeiro de um Taxi, quando tudo ainda dorme, e eu ali, mesmo sem dormir, vendo a cidade se acender devagarinho, os cafes abrindo suas portas, o pao quentinho, os limpadores de vidros executando sua tarefa, o varredor varrendo, a sinaleira abrindo, o cara fumando o primeiro cigarro do dia. E eu ali, no banco de tras, ao som de stay -U2, vendo a vida recomecar, a segunda-feira se acender na velha Londres. Cenas do cotidiano, atravessando a minha janela, e deixando o ar entrar na minha alma.
Percorrer as ruas de Londres, suas arterias, como dizia Quintana o poeta, e uma arte de aprender a amar, e como se precisassemos nos entregar para a cidade, da mesma forma que nos entregamos a um amor. De olhos fechados. Intensamente. Com tudo o que ha em nos e nos cabe. Para entao a cidade se acender e iluminar por dentro. Por dentro daquilo que e um mistrerio para nos mesmos, aquela faisca so esperando ser fogueira, o suspiro ensaiando o conto, o piscar de olhos prevendo um encontro.
Ontem andei assim sem rumo por tres horas, e me deparei com esquinas inusitadas, bares cheios de gente, cafes, parques e canais. Gente andando de bicicleta, outros empurrando um carrinho de bebe, outros carregando o bebe feito canguru no peito, gente vendendo livros na calcada, outros jogando futebol, casais abracados no sol, pai e filho conversando no banco do parque. E como num passe de magica a minha solidao ficou menor. E a cidade me abracou, e juntas deixamos o sol entrar, a lua banhar, e a vida recomecar. Ana Frantz
No comments:
Post a Comment