Os anos 80 naquela Joaquim Murtinho, nao poderiam ter sido mais belos. Era a epoca do sonho a ceu aberto, da magia ganhando vida, e as bonecas ganhando amores. A epoca dos entardeceres de sol, da comida esfriando no prato, de todos os filhos em casa, da minha avo vindo para os almocos de todo o dia, com dois coques no cabelo, e um sorriso sempre no rosto.
Lembro do espaco pequeno, das peredes feitas de madeira, do sofa velho, das janelas e suas frestras, e lembro quanta felicidade la cabia. Lembro como era bom! O abraco ao alcance da mao, a geladeira abrindo, a procura pelo pote de bala, o sorvete na cama escondido do meu pai, que nao queria que eu engordasse... Meu Deus, como e bom lembrar! E quase como que abracar novamente. As memorias precisam ser revisitadas de tempos em tempos, pois se abandonadas elas migram para alem do nosso toque, onde os sentidos ja nao conseguem rebusca-las com tamanha precisao.
As memorias talvez nos sejam o bem mais caro, o DNA de nossos passos, de nssos amores, sonhos, de nossa alma. E e como se as memorias so estivessem esperando uma oportunidade de nascer, assim como a primeira estrela no ceu, que lida o caminho para uma constelacao inteira. As memorias vao se acendendo uma a uma, iluminando toda uma constelacao, toda uma vida, que vale a pena ser contemplada mais e mais pelo decorrer dos caminhos.
Amo as memorias, porque elas sao partes do que fui, e do que sou. Sao partes de tudo o que amo e perdi, e continuam sendo parte das coisas que mesmo na distancia e em outros tempos ainda continuam sendo minhas. Meus amores podem me deixar, meus amigos podem partir, ou posso eu, partir e deixa-los, mas as memorias, elas me acompanharao sempre, me lembrando que jamais estarei so, se continuar mantendo o segredo de acender a primeira estrela, porque as outras seguirao com ela.
Lembrar e viver tudo outra vez. Lembrar e celebrar a vida, e viver tudo eternamente. Quem um dia resolveu entrar na materia dos meus sentimentos, de la, nao saira jamais, e vai para todo o sempre da minha existencia, fazer parte dessa imensa lista de personagens e cenarios, que eu invento e recrio cada vez que olho tudo outra vez.
Ana Frantz
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