d Dizem que a justica tarda mas nao falha, sempre tive minhas duvidas; no entanto, a manchete da BBC pela tarde alertando que Sir Ian Blair foi convidado a se afastar da Policia Britanica, seguido de uma longa investigacao, envolvendo nao so o assassinato de Jean Charles de Menezes, mas uma serie de outros incidentes ligados a discriminacao por via de racismo, corrupcao e favoritismos, me lancou um brilho de esperanca e uma certa vontade em acreditar na justica divina, na sabedoria universal, ou ate mesmo na lei do Karma. Uma coisa e certa, nada disso trara a vida de Jean de volta, mas certamente alivia um pouco a dor, porque nada fere mais do que a injustica.
d Passados ja tres anos da morte de Jean Charles na estacao de Stockwell no sul de Londres, logo apos ao atentado terrorista, ainda me emociono cada vez que ouco uma entrevista dada por sua familia, quando vejo imagens, quando leio a respeito. Muito pelo fator tragico estar tao proximo a mim, por ser um brasileiro, um conterraneo da mesma vivencia, dos mesmos anseios, medos, incertezas. Das mesmas solidoes, das mesmas vitorias, so querendo fazer parte de uma sociedade que nao e a sua. Alemejando a aprender um idoma que nao e o seu.
d Me doi saber o desfecho do sonho de Jean, me doi saber o quanto Londres lhe foi cruel. Ser um imigrante em terra alheia nunca sera facil. E em uma esquina ou outra corre-se o risco de um tropeco na discriminacao. Lembro das mentiras inventadas pela policia, dizendo que Jean estava usando casaco pesado de inverno em pleno verao, que seu visto estava vencido, que tentou pegar o metro sem pagar, uma lista ridicula de acusacoes. Lembro meus colegas ingleses enchendo a boca para falar que Jean estava ilegal no pais, coisa que mais tarde se comprovou inverdade.
d Os motivos pelos quais os policiais britanicos, assassinaram Jean, ainda sao obscuros. E conmpreensivel que na semana apos o atentado toda a atmosfera londrina andava tensa, bem verdade que o assassinato de Jean pode ter sido um mero erro humano. No entanto um erro muito grave, que nao so tirou a vida de Jean, um brasileiro tentando a sorte em Londres, como tirou de certa forma o senso de liberdade de toda uma sociedade, sendo ela de imigrantes, como a dos proprios filhos da Inglaterra.
d A morte de Jean em Londres, me lembra um pouco, o tormento vivido no Brasil com a ditadura. Terrorismo e talvez a ditadura do seculo xxI, com diferentes armas, diferntes poderes e outras ideias.
d Me comove saber que o exilio de Jean em Londres, nao encontrou a saida em Guarulhos. Que o sonho que ele veio aqui buscar, nao foi concretizado, e as esperancas foram todas vendidas. Me doi ver que dessa dor, nao rendeu musica, nao virou trilha sonora de novela. O que virou foi um filme, que contara sua morte. Me doi ver a ultima imagem, do corpo de Jean estendido ao chao, naquele vagao de trem. O mesmo trem que me leva pra casa todos os dias.
f Semana passada encerraram as gravacoes do elenco brasileiro envolvido na criacao do filme que contara a vida de Jean, e que provavelmente sera lancado em Junho de 2009, celebrando 4 anos de morte do nosso heroi brasileiro. Heroi que morreu sem defender a patria, que morreu pelo erro do fanatismo religioso de outras nacoes, mas que deixou em nos uma licao tao brasileira, tao verde amarela, desse nosso povo, forte, bravo,que nao foje a luta.
f Gracas a familia de Jean, e a comunidade brasileira, aliadas no processo de esclarecimento sobre sua morte, e que Sir Ian Blair saiu hoje do poder, quebrando assim, um certo status quo, sobre forte e fraco, certo e errado, vilao e mocinho.
g j A menssagem de Jean fica, ainda que nunca expressada por ele. Ela fala de um hino a paz, a humildade a ao amor por nossa gente.
Ana Frantz
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