Voltar de viagem, e sempre um retorno pra dentro. E sempre tempo de olhar o que foi acumulado, reparar no que foi deixado pelo caminho- sempre espero que tenha deixado algum anseio, um medo qualquer cair da minha bolsa, qualquer pre-julgamento que estava me estancando a passagem. E hora de ver o que sem querer trouxemos na bagagem, uma pedra, uma poeira, um segredo, uma imagem, um nao sei o que, que sempre nos deixa mais ricos, pela casa de dentro.
Quando decidi viajar sozinha para o sul da Franca, ja sabia o que estava em jogo: um encontro a sos comigo mesma!
rr Se encarar de frente, e sempre assustador! Descobrir sua propria virgindade frente a vida, que insulta e idolatra, num ritmo complexo demais para prever suas dessonancias, e quase sempre, um risco. As nuvens que formam o estouro da tempestade, e as que aos poucos se dissipam, deixando o sol reinar, serao sempre para nos, o desconhecido. Se olhar assim, toda nua, frente a um espelho que nao e seu e se ouvir em ecos, de uma lingua, que nao compreendes, mas que tenta aos poucos imitar e quase como se reinventar. Se deixar conquistar assim, pela vida, nua e virgem, exige coragem e uma dose de amor.
dddddA solidao, crua, muda, aflita pedindo morada. O medo, impeto, forte, veloz, ansiando tomar-lhe os passos. A sombra que lhe acompanha enquanto caminhas pelas ruelas amareladas pelo tempo. As portas fechadas e as cartas penduradas no vao. A beleza intruncada nas paredes. As flores e sua luz. O ceu, e as estrelas. O cheiro do queixo fresco sendo vendido no mercado, o gato subindo as escadas, o estranho que lhe da bom dia, a linda menina no vestido florido dancando na esquinda, as velas acesas para o jantar, e o voo do passaro, tudo isso, lhe pertence. Tudo isso, e agora o olhar do mundo ganhando vida, dentro de ti.
dddddViajar e como dar uma espanada na alma. Tirar o po, adormecido pelo tempo. Um encontro com o novo e tudo aquilo que nos deixa ansiosos de tanta curiosidade. E parar diante o precipicio e adimirar o perigo, e aproveitar o vento para incendiar as asas. Viajar e o voar mais intenso, e se a viagem for tambem por dentro, o viajar, se torna, mais que a viagem.
dddddddBom de tudo, ficaram tres certezas e uma outra: quem for ao sul da Franca, precisa falar frances, ou ao menos imitar, e o unico jeito de travar qualquer comunicacao na terra da provincia. E preciso chegar na hora para o almoco, ou os restaurantes estarao fechados, e teras que matar a fome com cerveja. E bom alugar um carro, se dependeres de onibus, talvez corra o risco de ter que pedir carona para um desconhecido, na volta, (ja que nem sempre os horarios na parada de onibus sao seguidos a risca) e como e muito dificil alguem falar ingles por la, a salvacao nesse caso, e quase rara. Mas nao impossivel. Se acaso encontrares alguem, disposto a ajudar, essa pessoa tem grandes chances de ser uma das pessoas mais interessantes do mundo, (talvez, so ai compence o risco!). A outra certeza que ficou e que nunca se volta a mesma pessoa, depois do sul da Franca, ou apos qualquer pouso, muito, lhe foi acomulado. Certa coisas delicadas demais, para pinta-las em palavras. Ha um pouco mais de alma, em tudo. Subitamente as imagens tocadas sao suas, e ja podes pendura-las pelas paredes da casa de dentro.
Ana Frantz
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