Deixa pra la. Ja passou. O soluco engasgando qualquer risada. As maos frias apalpando os porta- retratos no escuro. Ja passou a saudade.
Nao importa mais que tenham podado minhas asas e por longos anos me acorrentado em uma gaiola feia e sem graca. Olha pra mim e ve esse riso que nasce solto, esse brilho no olhar vem de uma alma que sobreviveu ao fogo que arde as coisas mais sagradas em nos.
Ainda que tenham enganado minha fe, baguncado minhas certezas e jogado minhas perolas todas ao chao a merce de qualquer mendigo, recolho o que me sobrou. Tudo o que e essencial se faz permanente. O que me tiraram, ou o que eu perdi, eram apenas coisas a mais que carregava na bagagem, o peso delas me delimitavam os passos. E eu gosto mesmo e das estradas, nasci para ser andarilha. Sigo assim, mais leve pelos caminhos.
Entao, deixa ele ser pequeno, e me deixa ser gigante. Ja se perderam as contas entre nos.
Deixa pra la o passado e todas as coisas raras que doastes com olhos fechados. E assim o amor. Deixa pra la as coisas concretas, os documentos empoeirados, a raiva de tudo. E assim a vida e tudo passa.
Enlaco o agora e com ele costuro botoes no meu vestido, me revisto com os minutos e as horas, e o dia de agora, se faz em meu presente mais bonito. Olho o horizonte que me convida para uma nova caminhada, ha sempre tempo de ser mais feliz, demoradamente mais feliz. Ha sempre tempo para se doar mais, sim ainda mais. Ha sempre algo de nos que ainda nao desperdicamos, e dificil adivinhar, mas com sorte, algo de raro pode se multiplicar em um turbilhao de novas cores. Nessa invazao do milagre, poderas enfim, beber no calice da redencao.
Ha um tempo pra tudo no mundo. Deixa pra la entao as azeduras do ontem.
Ana Frantz
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