Sento na grama molhada com meus joelhos no chao e em segredo converso com Deus. Lhe peco ainda um pouco mais de paciencia, para as licoes tao conhecidas, e sempre doloroso esperar pelo acontecimento que mudaria a minha vida. Em tons de desespero lhe imploro uma reviravolta. Qualquer vento rodopiante ou sorrateiro que arranque minhas raizes, tao presas a um chao que nao nutrem mais minha sede.
Ja nao calculo os limites do meu dia. Ainda continuo acreditando em um milagre, que justifique todo esse tempo perdido a espera de algo que me surpreenderia.
O certo e que se reconhece quando a vida vai passando no vazio. E ninguem quer segurar o peso do nada, atonito e indeciso, quando merecia bem mais.
Meu instinto cabalistico me diz que tem uma frase ainda nao decifrada nesse silencio que impera atraz da cortina do camarim. O espetaculo que inicia sempre com atraso quando ja desistimos de esperar na arquibancada pelas risadas e o abraco que viriam nos salvar desse abismo que nos persegue. Olho para a altura que me separa do chao, nao e o medo que me paralisa, e a incerteza de saber se posso mesmo voar,em distancias altas assim.
Enquanto me tranco em um quarto escuro tentando catar respostas que nunca encontro, a cabala insiste em dizer que o dia de deixar tudo pra tras chegou, e que ja nao havera chance de se permanecer o mesmo. Na euforia de quem anseia renascer, me dispo das roupas e do medo e abro os bracos ao vento, quero me deixar levar por essa forca, que a vida impera. Nao somos guias nem cegos, somos apenas plumas flutuando na atmosfera de um Deus que conhecemos tao pouco.
Fico em silencio tentando escuta-lo. Esse Deus que ainda nao conheco. Nao tenho paciencia, desisto, me desespero. Quero renascer, outra, nua, insana em um mundo todo novo. Espero o chamado; mas nao escuto nada a nao ser um silencio, denso e doloroso me repetindo frases antigas.
Olho para o ceu com olhos insanos, nao fui eu quem escreveu esses enredos. Me enfureco! Mas ja que nao posso ter o que insisto, me convenco e sigo. Ha um prazer escondido no desistir. Me solto livre em um ceu sem cor, e na distancia entre o que sou e persigo, mora a paz que preciso para nutrir as sementes ainda ferteis em mim.
Ha sempre um sussurro que me lembra que carrego um vazio na mala e uma vontade de trilhar caminhos diferentes. Mas mesmo na contramao, prossigo, sou sempre mais intensa na ousadia de ser interia sozinha.
Ana Frantz
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