Minha oliveira morreu mes passado. Quando a vi seca e sem vida, no canto da varanda, me enchi de uma dor cinza. Me enchi de culpa. Talvez nao a tenha regado direito, talvez devesse a ter trazido para dentro, nos meses frios do inverno. Mas quando a gente mata algo, embora seja sempre mais facil se culpar e lamentar o que poderiamos ter feito diferente, nada altera, a estranha sensacao de que o tempo fermentou em nossas maos, e o suor da angustia cuallhou qualquer encantamento. Perdemos.
Aceitar qualquer fracasso limita nossa capacidade de sonhar, com horizontes ainda maiores. Se matamos o que tinhamos na mao, como poderiamos, segurar, o que ainda nao temos, e o que se apresenta gigante na nossa frente?
A inseguranca e o que nos poem em xeque-mate frente a vida, e aos desafios, que ela, sempre nos impoem. O que a vida nos exige e coragem. A coragem de se lancar de olhos fechados na escuridao e tatear estrelas distraidas, perdidas na ilusao de um estranho.
E a vida, e uma moleca atrevida. Brinca de mimica, enquanto distraidos nao percebemos que fazemos caretas ao declamar o cotidiano. Ela imita. Se e sorrindo que contamos historias, e sem querer balancamos as maos aos ceus em gestos de entusiasmo. Ela; sapeca imita. Se abrimos os bracos e suavemente nos deixamos embalar pelos ventos que ela sopra, entao dancamos.
Ontem pela manha, me sentei novamente na varanda. Gosto de ficar observando os passaros voando em bandos, de uma lado para o outro, entre um fio de eletrecidade para o proximo, de um telhado para o outro, como se brincassem de pega-pega no ceu. Acendi um cigarro, e olhei para minha oliveira, e esse momento jamais vou esquecer. La estava ela, sequinha, fragilizada, mas em seus galhos se podia ver pequenas folinhas de um verde muito intenso lhe brotando a vida novamente.
Acho que o poema da oliveira, foi o poema mais bonito que a vida poderia ter escrito. Tudo renasce e tudo tem um fim. De certa forma eu tambem voltei a viver, no mesmo compasso da oliveira em minha varanda, jogando fora as folhas secas do passado percebi que folhas novas, miudas e muito verdes da cor da esperanca, brotavam suavemente em meu caule seco.
Eu e a Oliveira morremos um dia; e no outro tambem renascemos. E e assim, o milagre da vida.
Ana Frantz
4 comments:
Ah Ana... tão lindo! e eu, que sempre me achei tão capaz na utilização do verbo para descrever meus sentimentos, estou aqui sem palavras para o que sinto depois de lê-la. Que bom!!
Estendo os braços pro céu e agradeço pelos vôos que chegam de Londres até mim por vc. e pelas [mu]danças da vida.
Verdes renovações para vc e sua Oliveira!
beijos
Clarrissa cheia de cor,
Obrigada por tudo e por voar comigo nessas dancas da vida.
Um beijo cheio de folhas verdes, de todas as coisas que renascem um dia.
Ce post m'a beaucoup aide dans mon positionnement. Merci pour ces informations
Vous êtes les bienvenus. comment avez-vous réussi à lire en portugais?
Ana
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