Essa manha jurei para mim mesma que nao havia forca nesse mundo capaz de me fazer deixar o escurinho do meu quarto na manha que ja nascia escura na velha Londres. O outono chegou com forca, nao da para negar. Balancando as arvores com furia e as despindo sem qualquer pudor. Mas hoje e quinta feira. E de segunda a sexta o meu corpo nao pode obedecer a suas demandas proprias e com extrema dificuldade levanto por debaixo dos cobertores e encaro mais um dia.
Como todos os dias saio de casa dez minutos atrazada. E como se meu corpo protestasse, em seu ritmo, quase sempre muito lento pela manha. Crianca mimada que anseia so um pouco mais de colo antes de pegar o onibus para a escola. Nesse caso, me contentaria com minha cama.
No caminho para o trabalho a mesma coisa de sempre. Na plataforma do metro em Bethnal Green ha sempre muito mais pessoas que espaco. Cada qual empurra aqui, fala uma grosseria ali e entre cheiros acidos e empurroes, me vou mais uma vez esmagada como sardinha em uma lata, percorrendo as veias subterraneas de Londres.
Esse percurso de dez minutos embaixo da terra, ja e suficiente para me esgotar. Chego a minha mesa de trabalho exausta, desejando ao inves, ter tido que caminhar a beira do mar ou floresta, antes de encontra-la. A mesa de trabalho.
E mais um dia inicia.
Na Sky News imagens dos 33 mineiros presos embaixo da terra por mais de 70 dias sendo resgatados estavam sendo exibidas. Chorei ao ver cada um deles sendo submersos da escuridao de volta a luz, direto para o abraco caloroso de quem os ama. Indescritivel!
Quantas vezes, cada um de nos, tambem se deixou prender no submundo de nos mesmos? Trancados embaixo da negatividade dos dias, trancafiados com as pressoes no trabalho, nas contas para pagar e nos sonhos que ficavam cada vez mais distantes de serem realizados?
Nem sempre e facil encontrar resgate. Uma mao que nos puxe das profundezas de nos mesmos e nos traga de volta a luz. Quase sempre essa mao nao vem na hora certa. E precisamos reunir toda a forca que nos resta para escalar com as maos cansadas cada parede, que compoem esse universo frio e desconhecido que habita em nos.
A salvacao e possivel. Claro que sempre regressamos desse abismo.
Existe um lugar que podemos visitar toda vez que a luz se apaga em nos. E a casa das memorias doces. Onde guardamos o que nos e mais raro. O riso solto, uma paisagem muito bonita, as ondas quebrando nas pedras, um por de sol, um dialogo afetuoso, um abraco, um reencontro. Coisas nossas, que vao tecendo o que temos de melhor em nos, tramando os cordoes dos sonhos novos, nutrindo as relacoes de afeto e nos permitindo a coragem de acreditar que esse sonho e possivel.
Nao deveriamos temer esse naufragio; o de conhecer os submundos de si mesmo, mas nao podemos jamais perder o caminho de volta para casa. Permanentemente presos na caverna escura enquanto as estrelas no ceu esperam para que reflita em nos essa mania de sermos seres que brilham.
Ana Frantz
No comments:
Post a Comment