Solto os graos de areia um a um de minhas maos cansadas. Em cada grao, uma ilusao que construi com tanto cuidado. Talvez e a intensidade que mata a magia das coisas, quem sabe enchi o balao com tanto ar, na aflicao de quem nao acreditava que poderia haver uma alegria assim e destrui com minha voracidade o que me era tao raro.
Quem sabe ainda nao e tarde demais, para restaurar pedaco por pedaco, essa ilusao que era minha.
Deito meus olhos lentamente sob meu rosto exausto. Quem poderia acreditar no que digo, ao afirmar que e so a solidao que me faz bem, quando ninguem realmente anseia estar so? Mas e que cada vez que tentei me encontrar no outro, me perdi de mim mesma e vaguei sozinha numa estrada escura sem conseguir encontrar o caminho de volta pra casa.
Me perco uma vez mais, so que dessa vez, me perco em mim, sem saber a saida desse labirinto que contrui tambem, cada vez que dava voz ao medo.
Sempre cruzando o caminho de volta em estacoes opostas, dois trens passando pelo mesmo trilho na direcao contraria. Sou leste enquanto ele sempre sera oeste, la onde o sol se poem no final de mais um dia. E impossivel este encontro; sei.
Nao era nem isso o que queria, a felicidade amarelada dos dias presos na rotina.
O que quis e o que a vida nao explica. Eram aqueles olhos me declamando segredos, jurando em silencio que a vida, enquanto fosse nossa, seria sempre assim, um exagero desmedido de todas as coisas que nos tornavam mais vivos. O que quis para nos, era que o dedo da realidade jamais destruisse o palco em que encenavamos aquela historia tao bem escrita, que divertia plateias em grandes espetaculos. Foi bom sonhar assim.
Agora desfaco a maquiagem; o palhaco que perdeu a graca, diante uma plateia vazia.
Ana Frantz
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