Para os que vao; ha sempre uma saudade. Uma saudade daquilo que se deixou pra tras. Das pessoas e das risadas que so aquelas, faziam florecer. De certas pracas e jardins. Do sorvete da esquina e da calda de chocolate que so ali mesmo havia. Quem vai embora tambem deixa uma saudade. Na imaginacao de quem fica, aquele que foi, sera sempre uma janela aberta, para um outro mundo, uma nova possibilidade; o desconhecido. Para quem fica, aquele que foi, sera sempre uma pulguinha atras da orelha- Mas e se eu tambem tivesse ido...
Para quem vai; e olha do longe o horizonte ja conhecido. Nas calcadas velhas da memoria, nela os velhos amigos fazem sombra ao sol do meio dia. La onde caminha o pai na rotina dos dias; eram sempre as mesmas esquinas. La onde a mae esconde os cabelos brancos por baixo das tintas, la onde crescem os filhos dos irmaos e os avos se despedem dessa vida. Para quem vai e do longe espia pela frestras da fechadura; as nuancias das cores amareladas pelo sol acendem uma saudade e uma pulguinha atras da orelha- Mas e se eu tambem tivesse ficado?
Se a vida e mesmo um mosaico feito de escolhas; e tambem uma sinfonia de chegadas e partidas.
Ir embora sera sempre mais dolorido. Terminar um casamento embora infeliz, exigira sempre mais forca do que permancer nele. Sair de casa, da cidade natal ou do seu pais, exigira um esforco tremendo para desprender as raizes tao firmes no solo que ja conheciamos.
O risco dessa luta, em abandonar o que amamos tanto, mas ja nao serve mais, sempre valera a pena. O suor e as lagrimas, que certamente brotarao, darao luz a uma nova semente. E quando essas raizes truncadas se transformarem em asas, no limite do voo quase tudo sera possivel. Porque nao ha no voo a sedimentacao. O ar que entre e sai dos pulmoes em extase, ja e a justificativa de quem decide seguir este caminho. Nao foi nem se quer escolha.
Para quem fica, o conforto macio de nao ter que lidar com a saudade de quase tudo. De se saber perene no lugar de origem. A certeza do abraco certo, na hora do nao. De um chao mais macio na hora da queda. A leveza dos almocos de domingo, a ruela, a velha esquina, a arvore que subiamos na infancia, coisas nossas.
Quem fica, guarda o que tem. Ha uma certa paz nisso. Quem vai, guarda no olhar as coisas que ve, mas que nem sempre guarda pra si. E ha nisso um certo altruismo. Uma coisa de fome, talvez.
Ana Frantz
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