O que queres manter? Rebusca fielmente em teu pequeno mosaico que teces dia apos dia, tuas oracoes felinas, teus momentos de silencio, tua carne acesa, quase sempre em emorragia. Escuta lentamente o sussuro do vento, da tua verdade absoluta. O que queres preservar?
Saturno briga com Urano, nessa luta glacial, um pede calma o outro quer a urgencia. Um quer manter suas muralhas o outro quer por tudo ao chao. E eu te indago no escuro, o que queres preservar?
A lua cheia vem minada de dengos, com seus proprios quereres e com seus ciclos do tempo. Vem pousando com a asa do acaso, um nao sei o que, que arde como a picada de escorpiao. Vem intensa, vem profunda, vem exigindo uma posicao.
O que queres preservar? - indaga de um ceu que quase sempre nos parece alto demais.
Entre as revolucoes glaciais e estrelas que mudam de cor, na Lua que vem em Escorpiao, nesse abril que vai chegando ao fim, eu me pergunto, o que quero mesmo preservar?
A resposta vem correndo entre os dentes e a saliva, como se so estivesse esperando, a oportunidade de se fazer ser ouvida.
Quero preservar o que ha em mim. E vive, lateja, arde e se expande. Embora Urano implore, e brigue com Saturno, minha alma nao da sinais nenhum de desapego, e me agarro ao que conheco. Minha oracao sai meio sem ritmo, me encabulo frente ao altar, quando peco, que nada em mim se perca, nem as dores, nem os sonhos, nem os amigos e nem tao pouco os velhos amores.
Ah os amores ja antigos que vao construindo em mim Templos onde me refugio em noites em que a Lua vem brigar comigo.
Ana Frantz
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