E tem dias que a mulher em mim foge.
E la se vai ao chao qualquer estrutura pre-montada, qualquer esconderijo que tenha cavocado com as unhas.
Em dias assim a crianca que mora em mim vem brincar, as vezes nas bolinhas de sabao que ela solta pelas calcadas vem uma melodia que nunca havia escutado antes , noutras e uma cor que nao via ha tempos. Gosto dessa crianca serelepe, que e quase sempre mais feliz do que a mulher. Mas essa crianca vem cheia de manha tambem e fica toda sensivel se alguem lhe puxa o cabelo ou sem querer pisa em seu pe. Chora sem vergonha nenhuma, essa minha menina, que ao atravessar os tuneis da grande cidade fica as vezes toda perdida, querendo apenas encontrar um rosto conhecido.
A vulnerabilidade tem seu encanto. E deveriamos ter tempo para chorar mais. Mas na correria de segunda a sexta, e o salto que tranca num buraco da calcada atrazando tudo, e a maquiagem que nao pode borrar.
A mulher que vez que outra foge de tudo, me deixa nas maos essa crianca me pedindo carinho, cafune e aconchego. E eu fico tentando explicar que nao ha tempo. Me da do, da minha menina. Que merecia ter mais. Um pouco mais de sorte e cuidado. E tempo para fazer manha. Sempre foi manhosa a minha menina.
Enquanto faz sol la fora e as ruas se enchem de pessoas comendo sanduiches nas escadas dos predios, eu fico aqui dentro na sombra dessas ebulicoes em mim. Claro que penso em querer ouvir uma voz ou outra que possa trazer aconchego, mas nao pego o telefone, porque de vez enquando tudo o que essa crianca precisa e de silencio. E assim, so assim ela entende, que vez que outra nao ha tempo para manha, e logo a dona da casa volta, para tomar conta de tudo, forte e certeira como sempre uma mulher deve ser.
Ana Frantz
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