Recolho meus brinquedos do jardim, fecho a porta da varanda e apago a luz de dentro. Perdida entre meus livros e discos reviro os pedacos de papel soltos na gaveta a procura de um mapa que me tire daqui. Na preguica adormeco antes de arrumar as malas. Ha tantas coisas velhas a carregar. As roupas que ja nao servem mais, os bilhetinhos, as velas, as fotografias, os livros e as cartas de banco que nunca abri. Ha tanta poeira para espanar, que antes mesmo de comecar a limpar, comeco a espirrar. Deixo pra la.
Deslizo pelos dias gladiando entre o sim e o nao. Querendo pular esse muro, alto e escuro, das incertezas que construi. Adio. Amanha e sempre outro dia, e quem sabe eu me acostume de novo, com as horas passando apressadas, com os amigos sempre do outro lado, com as longas horas na frente do computador, com o horario de almoco sempre as pressas, com essa angustia. Quem sabe um dia eu me acostume com essa mania de ser sempre estrangeira e de nao saber para que lado ir.
Quando o outro dia chega e ainda o mesmo rosto no espelho me indagando uma resposta. Passo horas em silencio tentando responder. Mas simplesmente nao sei o que dizer. Largo o caso para o destino resolver. Sacudo os ombros, e declaro - o que tiver de ser, sera! Sento e espero. Mas nao ha se quer uma brisa na tarde e mais um dia chega ao final.
E assim passo milhoes de amanheceres esperando um vento que me impulsione de novo para o voo. Por horas acredito que esqueci o segredo e nunca mais conseguirei voar, olhando as distancias como antes, com a maestria de quem nunca deixou de acreditar na vida e no amor que move todas as coisas.
Mas e que vez que outra me sinto so, e nem sei para onde voar. As distancias nao sao tao belas quando nao se tem a certeza do pouso macio para pisar.
Certezas quase sempre me deram brotoejas. Gosto da ideia que o sonho traz, poder pincelar como um magico ou um artista nessa caixa encantada do dia de amanha; este e sempre o segredo mais bonito.
Ajoelho frente ao meu altar particular e conto todas minhas bencaos com a gratidao de uma boa filha. Imploro para que tenha a forca nescessaria que a mim foi concedida e assim, que eu possa carregar o fardo pesado e alegria desmedida. Que eu tenha sanidade para manter minhas frases em ordem e a loucura para acordar meus sonhos esquecidos. Que eu tenha sempre no peito a salvacao dos afetos verdadeiros de quem fala a mesma lingua nos dialogos revigoradores. Porque e para isso que existimos, para refletir no outro as milhares de estrelas escondidas em cada um de nos. Que e para isso que viemos, para brilhar na escuridao. Aqui estamos para guiar e sermos guiados pela gentileza do outro.
Ana Frantz
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