Serenamente deposito minhas esperancas em um envelope de papel. Nesse envelope tao bem construido com fibras minusculas e quase invisiveis, vai minha esperanca. Galopando no espaco entre estrelas. Entre o silencio das tardes e o relogio assustando o coracao, os ponteiros dancam longamente, soltos pelo tempo. O tempo da espera.
As palavras escorregando entre os dentes. Os amores que perdemos a cada esquina. As historias trocadas, emaranhadas, ja encabuladas por serem tristes. Os pedidos de perdao, os bilhetes de amor, a cara amarrada do nao. Fecho portas com a honestidade dos dias ruins. Nao o escondo de mim, o mosaico das cores mais feias. As gotas de chuva impregnando de tristesa e calma a estante de livros presa no canto da sala.
Espero ainda. Com a esperanca envergonhada por ser tao destrutiva.
A possibilidade do sim me enche de monotonia, minha alma quer dar um pulo, para passar a andar no futuro. A paciencia puxa meu vestido, arranha minhas pernas, me pede abrigo. Nao a quero. A paciencia, a morna e tao silenciosa eloquencia. Sento e espero, com a aflicao de quem acaba de nascer. E tua resposta nao chega, ela simplesmente nao vem.
Apago minhas velas no altar e deixo meus Santos irem dormir.
Fecho meus olhos, pequenos, verdes, lacrimejados e recito um mantra qualquer. Tudo o que vejo e que vens. Vens abrindo portas, perfumando as flores, iluminando as tardes, dando de beber aos passaros. Tudo o que vejo e teu amor se expandindo e me dizendo sim, sim, sim, ate o amanhecer. Tudo o que vejo, e o que nao tem salvacao, nem nunca tera. E minha esperanca, bem verdinha, vai me contando historias ate o meu adormecer.
Ana Frantz
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