Londres tem uma certa densidade que as vezes assusta. Quando a noite se desfaz no horizonte quase sempre cinza, alguma coisa se entristece na cidade que nunca dorme. Se ela algum dia adormece nunca e por mais que alguns minutos. Como o olho cansado que pisca, pisca, pisca, na luta de nao se entregar ao cansaco. Quando um bar fecha suas portas, o outro esta apenas acendendo as primeiras luzes. Quando o bebado abre tremulo a porta da frente depois de uma noite inteira de tragos, o vizinho do lado fecha a sua, antes de seguir para mais um dia de trabalho. E assim seguem entre becos e ruas finas, abrindo e fechando portas, quase sempre apressados, quase sempre negando o cansaco, quando os olhos gostariam mesmo de se fechar por uma longa noite de sono.Londres nao para, nem pode parar, ela e o terreno do sonho de tanta gente. E quando um acorda e a hora do outro adormecer.
E nessa amplitude de horizontes que abrem e se fecham, nessa pressa que tao ironicamente gera a falta de tempo e no berco das oportunidades infindaveis da capital do mundo, se da a luz para um outro tipo de gente.
Olhos vorazes, mas que ja nao enchergam mais, o que e essencial. E que a beleza esta na simplicidade, que quase sempre passa despercebida para quem anda com muita pressa. Os ouvidos ja nao escutam mais, o chamado de dentro, nao ha tempo, nao ha tempo... Ha muitos ruidos, idiomas diferentes, a televisao sempre ligada no horario do jantar, leva tempo para estabelecermos essa relacao pessoal consigo mesmo. E tempo aqui e dinheiro!
E assim vai se perdendo a gente daqui. E quao mais distantes, estes chegam de si mesmos, mais se perdem na ilusao de que estao mesmo succedendo. O ego que se agiganta, tambem separa de tudo o que e raro e verdadeiro. A verdade e que deveriamos nos preocupar muito mais em ser, do que ter. Saber quem se e, deveria ser mesmo a maior conquista.
Quando se conhece a voz que fala e noutras cala em nos. Que guia e conforta. Que apazigua e acalma. Nao ha mais busca sem encontro e nem e mais preciso correr tanto, com a pressa que ignora o que deveria ser apreciado com todos os sentidos.
Ha mesmo tanta agressividade la fora e dentro de nos. Ate as relacoes afetivas estao agressivas. E preciso tempo e paciencia para acalmar a alma, domar esses cavalos selvagens em nos. Silenciar o ego. Apaziguar-se em si. Porque e na calma que encontramos a alegria verdadeira e aprendemos a identificar quem e verdadeiro na multidao.
Ana Frantz
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